quinta-feira, 13 de março de 2008

vinho inaugural

E o vinho cavalo rasgou a folha inaugural, fez a vírgula e saiu do carro em direcção à festa, daí os caracóis. Ia tão cansado... Mas estavam ali mais quatro pessoas. Não se encontrava só e ouvia-lhes os estômagos da Santa Adega, se a Marta estiver cooperativa e o vinho cavalo. O caniche anglo-italiano observa a mesa de bilhar e diz: – Se a bandeira estiver vermelha, então comerei o escaravelho dourado, o mais fino.
É um sintoma dos cadáveres. Um homem raspa, raspa, raspa até lhe falharem as canetas. Ladrões, pilhas de desenhos, cartas por abrir, o fumo das paredes, fanadas. É assim que se sente em casa, parece-nos.
O público levantou-se e aplaudiu algo desinteressado. De seguida, alguém acendeu as luzes e as pessoas começaram a abandonar a cave. Nas escadas, lembro-me que paraste para acender um cigarro e javardaste o bar da nave porque a adega já não estava cooperativa e a Marta já não era Santa, junte-se isto ao facto que o homem que anteriormente se jogara ao mar e temos de ficar tenros como carcaças, encher os pulmões e dar uns tirinhos ao príncipe. Está quase, amanhã vamos enterrá-lo em giz até ao pescoço, em sintonia com os costumes de então. Você, ou vossa mercê, poderá, pois, acompanhar esses sujeitos num passeio pela serra das Cóias, Barreirh e Gaspa. Perto do poste do limbo telefónico, detivemo-nos em algo que insistentemente alastrava do aparelho, até ao sótão da vizinha destrambelhada que voava em noites de maré alta, até que o sol a viesse brindar aos ouvidos, com a sua doce música.
Rodou o botão, dando-lhe um toque mínimo com o polegar, já cansado de assinar folhas de ponto, e prontamente se passaram a ouvir duas melodias, nítidas, uma de cada lado do campo em quantidades inferiores à centena. Os mongóis, por sua vez, não se podem dar a esses luxos. Eles tomam banho no rio e vivem, quase sempre, em relotes e atrelados. Frequentemente, as cenas de pancadaria, o sexo, a chuva ácida ou talvez as férias da Páscoa com a bela de uma banda sonora a acompanhar todo este magnífico festival selvático e perigoso, mas uma delícia.
Encham mais um copo, despejem essa bexiga. Meus amigos, sejam felizes como tigres, a cercar o cavalo, sem medo de cada trago, sem pressa de o acabar.

B, F, V.

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