quinta-feira, 15 de abril de 2010

Barbas de milho

Estou à espera que me venham ver
Tenho tempo de fazer uma cara para os receber
Da entrada até aqui onde eu estou
são muito metros de folhagem
e recortes de pessoas tatuadas.

quarta-feira, 18 de março de 2009

o ladrar e o rosnar eram acordadores

tenho 40 anos moro na zona do barreiro.
em 1983 comprei a minha primeira motorizada uma xf 17 nova no cequeira na baixa da banheira na altura vendia xfs que era uma locura com 16 anos começei a trabalhar (Não quis estudar)por isso precisei de comprar um meio de transporte as pesoas mais velhas cuidado essa motorizada anda muito e muito leve logo para ganhares pratica e perigosa mas eu mal a vi na loja foi amor a 1 vista a minha era daquela serie so com um conta kilometros ao meio grande marcava ate aos 120 klm dos 100 ate aos 120 a vermelho salvo erro.guiador direito ligeiramente a subir chave de iginicao por baixo nas tampas laterais as porcas das tampas ja eram de plastico tampa do deposito tanbem ja era em pastico. vermelha com listas pretas linda.

fizeram uma hortelã

Rapinas do monstro em parvos

O rádio encontra-se indo comer o almoço do cabo do monstro e a menos que possam diversificar - e para convencer o público enfadado que não estão para fora os parafusar - eles é furado.

terça-feira, 27 de maio de 2008

A velha máquina de deslizar

Esta lâmpada é um brinquedo
Lento e decrescente
Que me gasta com o tempo
Vou gritando pelo escuro a ferver do que mostravas
Tenho uma cobra na língua
Que me alarga a pele
A seguir da torrente
A seguir já não me lembro
A não ser que tente
Há mais dias para dizer o que seria se fosse ele
Tens uma rosa na língua
Que me agasta
Esta casa é um veneno
Deito-me e
Passa de repente

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Doze Maçãs

Eram doze maçãs molhadas
Sentadas na boa mesa
À espera da criada
Pingam plumas de almofada
Ali à luz da lanterna
Para dentro de copos de água

Na árvore onde foram casadas
Não há nada que valha a pena
Cai a última lá para baixo
E a corda fica presa
Quem está a bater nos canos?
Perguntou a maçã quadrada

Para as onze acordadas
À espera que o vidro trema

terça-feira, 6 de maio de 2008

Lamento

Na noite antes da véspera, eu Lamento:
uma insónia,
dois poemas perdidos,
ter aprendido a nadar,
o palco e a plateia,
o fosso que está cheio,
os dentes de velho,
o meu braço direito,
as favas do Olimpo,
o ronco outonal,
o comboio mal estacionado,
os bombeiros pelas escadas

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Dia feriado

O Blake, o Faulkner, o Baudelaire e o Pirandello foram tomar café.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Degelo

Vês? Silêncio
Que se foram as gaivotas
Piando como setas
Até ao próximo cume

De asas encharcadas
Respiram aflitas
E desincha a maré
Na planície morta

Sem medo do lume
Saciada, agora
Eu não sei, ó gaivota
Se tu cabes no cinzeiro

Se esquecermos a fome
Vais bater-me à porta

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Frogas o Facho


Cadáver com o Titi (sob protesto do Titi)

Na Cadeia Alimentar, onde cumprem pena aqueles que praticaram crimes com o único propósito de encher uma malga de caldo verde. Foi uma semana fantástica, produtiva e plural, com o produto do caldo a exceder, antes que a mostarda chegue ao nariz do Rodrigo – que é marinho – ou do seu tio King.
Quando por motivo nenhum desceu e pensou; ao meio dia cantou o outro galo. Isso não foi surpresa para os três que vinham a subir as escadas.
Fez-se silêncio. A dourada estava finalmente grelhada e a salada tinha dentes que ocultava num bocejo velado. Pegaram na malga para despejar o caldo e chocalharam as pretas no interior barrento. Titi ia compulsivamente à Cinemateca, mas todos os dias voltava de mãos a abanar, excepto daquela vez:
Pensei, mas como vim aqui parar? Percebi facilmente que devia mudar de vida! Com uma câmara, para contar.


B, F, R, Tt, V.

domingo, 30 de março de 2008

quarta-feira, 26 de março de 2008







Deixa-me rir antes que me esqueça.





Cadáver cristalizado

Dúvidas? Há sempre dúvidas. Duvidas? Não sabes que Rachi prendia as tranças ao tecto num espernear frenético ondulando espirais de um mundo labiríntico, quadrado. Percurso aguado por tintas de aguarela que descrevem no seu suave discorrer a vidência nacional do Alentejo de luz em ziguezague calcorreando por uma matéria informe ao bom estilo do pastoso pai de família. Coça o rabo, raspa a franja, esfrega as mãos – esta eu detesto – puxa para cima as calças amarelas, diz que não bebe, nem olha para as pessoas e o resto já não me lembro. Nós vemo-lo ali, como um livro sentado à mesa, com vergonha de ter comido demais. As ostras estavam podres, o vinho estava azedo, a fruta bolorenta...
Miscelânea de cores fétidas. Assim soava a nota musical que Dom Herrero gania ou trovava – como lhe queiram chamar –, certo é que a certa altura a flor murchava no casaco do ministro do governo de Salazar.
(Essa cena da coerência está-me aqui a moer a pipa agora). Voltando ao velho. Os braços já lhe pesavam, então quando queria frisar uma ideia mexia muito as sobrancelhas e anunciou o seu desafio: equilibrar uma estrela cadente na ponta do nariz, subindo um arco-íris.
– Quem o conseguir, ficará com o ouro.
– Ou então ficará com um valente Medo do bigode encharcado em vinho previamente quitado em água-de-colónia trinada de incertezas e desambiguações totalmente irrelevantes. Talvez um pouco menos que correr à neve. O ar ali à volta cheira a bola de Berlim.
Há Burdas espalhadas pelo chão, rasgadas em silêncio. Rachi pegou nos netos, coçou a orelha e pediu-lhes que arrumassem as coisas. Disse estas últimas palavras com brandura, soprando-as do seu buraco.
Chegara o dia feito da noite. O feto a seguir à noite cristalizado numa alucinação bestial, dançando em círculos, falando com os pássaros numa cacofonia muda. Vi então uma cara, anunciava algo que pôs toda a gente a dormir.

B, F, T, V.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Longos períodos de ausência

Espero a frase
Que ela se forme
E me diga a mim que a digo
O que quero afinal eu dizer

Que ela se pense
Como se eu outro fosse
E para mim olhasse
Sem me-o ver

Não me vejo nem ao outro que vejo ser
Que agora vejo escrever
De quem são estas mãos?

Hoje a palavra é estaca

Photobucket

quinta-feira, 13 de março de 2008

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A gordura das pessoas é dos planetas.








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vinho inaugural

E o vinho cavalo rasgou a folha inaugural, fez a vírgula e saiu do carro em direcção à festa, daí os caracóis. Ia tão cansado... Mas estavam ali mais quatro pessoas. Não se encontrava só e ouvia-lhes os estômagos da Santa Adega, se a Marta estiver cooperativa e o vinho cavalo. O caniche anglo-italiano observa a mesa de bilhar e diz: – Se a bandeira estiver vermelha, então comerei o escaravelho dourado, o mais fino.
É um sintoma dos cadáveres. Um homem raspa, raspa, raspa até lhe falharem as canetas. Ladrões, pilhas de desenhos, cartas por abrir, o fumo das paredes, fanadas. É assim que se sente em casa, parece-nos.
O público levantou-se e aplaudiu algo desinteressado. De seguida, alguém acendeu as luzes e as pessoas começaram a abandonar a cave. Nas escadas, lembro-me que paraste para acender um cigarro e javardaste o bar da nave porque a adega já não estava cooperativa e a Marta já não era Santa, junte-se isto ao facto que o homem que anteriormente se jogara ao mar e temos de ficar tenros como carcaças, encher os pulmões e dar uns tirinhos ao príncipe. Está quase, amanhã vamos enterrá-lo em giz até ao pescoço, em sintonia com os costumes de então. Você, ou vossa mercê, poderá, pois, acompanhar esses sujeitos num passeio pela serra das Cóias, Barreirh e Gaspa. Perto do poste do limbo telefónico, detivemo-nos em algo que insistentemente alastrava do aparelho, até ao sótão da vizinha destrambelhada que voava em noites de maré alta, até que o sol a viesse brindar aos ouvidos, com a sua doce música.
Rodou o botão, dando-lhe um toque mínimo com o polegar, já cansado de assinar folhas de ponto, e prontamente se passaram a ouvir duas melodias, nítidas, uma de cada lado do campo em quantidades inferiores à centena. Os mongóis, por sua vez, não se podem dar a esses luxos. Eles tomam banho no rio e vivem, quase sempre, em relotes e atrelados. Frequentemente, as cenas de pancadaria, o sexo, a chuva ácida ou talvez as férias da Páscoa com a bela de uma banda sonora a acompanhar todo este magnífico festival selvático e perigoso, mas uma delícia.
Encham mais um copo, despejem essa bexiga. Meus amigos, sejam felizes como tigres, a cercar o cavalo, sem medo de cada trago, sem pressa de o acabar.

B, F, V.